segunda-feira, 15 de março de 2010

Nietzsche



Nietzsche tem um peso significativo sobre meu caráter. Vejo, em suas paginas, a urgência retumbante de uma filosofia que não perdoa a inércia, o comodismo, as desculpas covardes, o abandono do mundo. Por certo Nietzsche é, dentro da tradição do pensamento ocidental, o mais austero dos filósofos. Iconoclasta severo dos moralismos, das ilusões metafísicas, do transcendentalismo cristão, enfim, do descaso com a vida. É verdade, Nietzsche não foi um filósofo, foi uma dinamite. Ninguém consentiu, tão conceitualmente, a tragicidade da existência, do brado apolíneo e dionisíaco que há em cada homem. Mas é preciso, pois, superar o homem. E saber que a vida só se justifica como fenômeno estético. Que é a arte que torna este mundo menos efêmero e doído. Aprendi muito com Nietzsche. Com seu “otimismo trágico” extirpei muito de minhas ilusões. Foi com ele que vi o sofrimento como “grande saúde”. Mas, antes de tudo, ajudou-me a perceber a filosofia como carga de vida, carregada em si de um impulso de paixão e intensidade. Por certo não é possivel pensar o presente sem remeter, de forma explícita, às assertivas niezschianas da crise da moral, do brado da morte de Deus, da existência sem desculpas; movida, pois, pela vontade de potência, tao imperante nas ações humanas. É preciso considerar Nietzsche como o grande intuidor do presente. Desse tempo que se considera pós-moral e pós-metafisico, carregado de um sintomatismo niilista. Todavia Nietzsche não é um profeta do caos. Quis, com seu pensamento iconoclasta, defender uma humanidade abstraída das ilusões – metafísicas e imanentes – e mostrar que o mundo é o lugar do Übermensch, quer dizer, daquele homem-ponte que se supera a si mesmo através da transvaloração de todos os valores do indivíduo.

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