segunda-feira, 15 de março de 2010

Andy Warhol e a arte contemporânea

Warhol é, certamente, um dos mais paradigmáticos artistas contemporâneos. Cético, indiferente, sem discursos brilhantes, nunca se propôs a fundamentar sua arte como revolucionária, antes, dizia sempre que seus métodos pitóricos não traziam em si nenhuma genialidade. Costumava deixar seus trabalhos entregue a assistentes; não mais o discurso do artista que, num momento epifânico, cria uma grande obra, um movimento, sempre singular em sua expressão, mas o artista-máquina, que produz em série. “pinto – disse certa vez – porque eu queria ser uma máquina”. E, com um cinismo que o caracterizou de modo dramático, falava: “acho que seria sensacional se todo mundo fosse idêntico”. Mais ainda: “quero que todo mundo pense da mesma maneira. Acho que todo mundo devia ser máquina”. Como sua arte, Warhol é expressivamente ambíguo. Muitos críticos, então, enxergaram nas posições céticas e pitóricas de Warhol um eminente critico social. Outros, ao contrário, o deflagravam como doente, sem talento e banal. Na verdade, Warhol é ambas as coisas e mais além. Suar arte, de fato, reflete as banalidades da vida social no mundo desenvolvido industrialmente, dos meios de comunicação, da mídia, do consumo. Warhol mesmo foi uma figura do estrelato. Sua imagem, em si, pode-se dizer, foi sua grande obra de arte. Warhol é um antigênio da arte e, por isso mesmo, tão genial e próprio. Ambíguo e plural como toda expressão dos movimentos da arte contemporânea. Sua postura como artista rompe os procedimento habitiuais dos artistas modernos. A arte moderna queria chocar, inverter a natureza, desejava o artista personalizado e revolucionário: “toda a arte toma partido”. A fase azul de Picasso, a Guernica, o Dadaismo e sua denuncia dos absurdos da guerra e da racionalidade, as posições existenciais dos Expressionistas abstratos, Brecht, Neruda, Maiacovsk. É preciso ainda assinalar que a arte moderna tem no conflito e no hermetismo uma tomada de partido. Warhol era menos preocupado – pelo menos aparentemente – com certas posições políticas e revolucionárias que os artistas que o precederam. Não obstante, a importância de Warhol não está nos discursos verbais, mas pitóricos. Antes de Warhol, o mundo da arte, sobretudo nos Estados Unidos, era dominado pelas posições do Expressionismo Abstrato. Surgido nos anos 40, o Expressionismo Abstrato tem como técnica a livre associação da tinta, num ato expressivo de liberar cores, sem nenhuma referência a realidade visual-figurativa. O impulso pitórico, sem uma idéia referencial de figuração, tornou-se o método mesmo da ação artística, dando a tela um caráter abstrato. O figurativismo foi desfigurado: J. POLLOCK, A. GORKI, KOONING. KLINE. Com Warhol, contrapondo-se às posiçõess pitóricas do Expressionismo Abstrato, deu-se o retorno a figuração. Usando procedimentos foto-mecânicos, Warhol produzia pinturas em série dando a obra um caráter de produção maquínica. Com o procedimento pitórico da serigrafia, seus efeitos plásticos eram produzidos com maior semelhança. A adaptação pitórica da serigrafia permitia Warhol coadunar a fotografia com a pintura em um só processo plástico. Há um fator determinante na pintura Pop de Warhol: a repetição como discurso pitórico. A repetição mostra a desvirtualidade singular da obra, a despersonalização do autor. Serve, assim, de brusca ambigüidade: de um lado, há uma artista despersonalizado, frio e sem grandes convicções. Por outro lado, revela uma marca da sociedade massificada, consumista, impessoal. Warhol é um grande artista. E rompeu os limites do entendimento da arte. No contexto da arte pós-moderna, ele representou o próprio questionamento dos movimentos de estética modernista. Ele precedeu, por exemplo, movimentos das décadas seguintes, como o Minimalismo e a Arte Conceitual.Warhol levou a arte às massas e mostrou-a paradigmaticamente. Como gostaria de ser visto e interpretado. Warhol assumiu uma postura nova na concepção artística: levou a arte ao grande público. Acusa-se a arte moderna de ser hermética e distante do público. "arte para artista" como disse Ortega. Com uma linguagem confusa e pessoalizada, a arte moderna exigia, de fato, uma certa compreenção engajada. Mas não terá sido sempre assim? Com imagens que refletiam o cotidiano, as matérias primas da sociedade massificada, Warhol e sua pintura Pop elevaram a arte contemporânea a niveis de entendimento e polêmica que tornou-se difícil ignorá-lo. Aclamado ou odiado, mas nunca ignorado. Podemos dizer que os movimentos artísticos dos últimos quarenta anos devem muito a Warhol, mesmo aqueles que pretendem superá-lo. Sua influência foi decisiva tanto nas pretenções minimalista, da Arte Conceitual, com do "renascimento da pintura" no final dos anos 80. Warhol é um mestre da imagem. Da ambiguidade. Da polêmica. Warhol não somente é um grande ícone da arte contemporânea, como é, sobretudo, um precursor, um inovador. O que Warhol não fez? O que não foi? Suas imagens residuais testemunham um tempo não menos residual. Warhol pensava as massas. Com seus valores, contradições. Paradigmas. Foi não menos dramático e contraditório - como seu tempo - como as personalidades que se propôs a expressar. O que devemos a Warhol? Muito. Ou quase tudo. Tanto, que ainda não conseguimos determinar, precisamente, o quanto nos custou seu legado.

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