sábado, 27 de março de 2010

Jean-Paul Sartre e o homem existencialista




Jean-Paul Sartre é, convictamente, o filósofo mais representativo do existencialismo. Nenhum outro pensador assumiu, de modo tão engajado, os prenúncios vivenciais e estéticos do movimento existencialista. Encarnou para si a imagem do homem livre, militante, engajado na existência. Fundando sempre seus atos na inadiável liberdade, sabendo que, no fundo, só há um modo legitimo de circunscrever a liberdade: jamais podendo deixar de ser livre. Ele criou sua essência, existindo. Assumiu a urgência de cada engajamento vivencial. A “existência precede à essência”. Aliás, esse prenúncio é fundamental para caracterizar as correntes existencialistas. O que significa, todavia, dizer que e existência precede a essência? Ora, para Sartre, o homem é o “nada que vem ao mundo”, quer dizer, nada há precedendo a existência do homem que possa defini-lo antes de seu engajamento vivencial. Não há, pois, nada a priori a definir o homem. Nenhum caráter cuja essencialidade o possa defini-lo como algo dado para sempre. Não há Deus, não há natureza humana. Sartre rejeita toda a crença em Deus e, também, em uma natureza humana. Assim, ele apresenta um existencialismo ateu. Sartre diz:


O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem, ou como diz Heidegger, a realidade humana”.


Sartre prenuncia que o homem primeiramente existe , com o tempo, torna-se alguma coisa, quer dizer, adquire sua essência. A essência humana – ou a natureza humana – só aparece como recorrência da existência do homem no vivido circunstancial, engajado nas ações inalienáveis da construção de si mesmo. Para Sartre, no homem, a existência precede a essência porque ele é originariamente livre. A liberdade advêm do nada que obriga o homem a construir-se, a forjar-se, a projetar-se, no lugar de apenas ser. O homem sartreano não é, mas torna-se constantemente. E torna-se no principio subjetivo, vale dizer, ele e só ele é responsável pelo que escolheu ser e, por isso, por tudo o que faz. Sartre explica que “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: esse é o primeiro principio do existencialismo”. Porém, para o existencialismo sartreano, a liberdade torna-se uma sentença, um peso, uma obrigatoriedade porque não há nada que a fundamente senão a emergência do vivido, do existente, da ação engajada. Deus não existe. Não existe também natureza humana. Nada há que determine o homem de modo fatalista. O que resta, pois, ao homem? O nada e a necessidade existencial de construir a si mesmo. O homem, portanto, está sem desculpas. Assim, o homem projetando a si mesmo, porque não há nada anteriormente a ele, a liberdade aparece como algo inadiável. No entanto, a liberdade não é uma dádiva. O homem não conquista ou não escolhe a liberdade. Ela, a liberdade, é o que o constitui como homem. A liberdade é o fundamento do ser.


“com efeito, se a existência precede a essência, nada jamais pode ser explicado por uma referencia a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade”.


Sartre postula que o homem está condenado a ser livre. Condenado, sim, porque não criou a si mesmo e, uma vez livre, é responsável por tudo o que faz. Por estar lançado no mundo, sem desculpas, condenado a construir a si mesmo, autor concreto de seu destino, o homem existencialista postulado por Sartre é angústia. A angústia resulta da consciência da própria liberdade como condição inalienável visto que o homem não tem desculpas fatalistas para se justificar e, por isso, está condicionado a total responsabilidade de seus atos. Torna-se, porém, observar o fato de que a o homem sartreano não é um subjetivista absoluto. Sartre explica que, na verdade, quando o homem escolhe a si mesmo está, concomitantemente, escolhendo a todos os homens. Pois a imagem que ele constrói de si significa, no fundo, a imagem que ele deseja de todos os homens. O homem que se compromete com a escolha de sua existência deve saber que ele não escolhe só a si mesmo, mas, em suma, escolhe a humanidade inteira. Assim, pois, escreve Sartre:


“ao afirmamos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe a todos os homens”


O existencialismo sartreano é uma moral da ação. Afirma a supremacia dos atos, do engajamento. Pensa que o único fundamento do homem é a liberdade, a urgência do projetar-se a si mesmo, construindo-se em situação. A filosofia de Sartre é uma expressão contra os comodismos, as desculpas fatalistas, a moral do costume, a consciência de rebanho. Sartre nos mostrou que somos verdadeiros sujeitos de nossa existência, que somente nós podemos, fundamentados pela liberdade, construir a nossa existência.

4 comentários:

  1. E os outros seres escolhem a si mesmo? O quer dizer de um crocodilho,um cachorro, gato ou uma ovelha, eles escolhem o que são?
    Visto que a composição de um ser,talvez,dê-se pela memória. Do acúmulo das coisas vividas,do que se repele e do que se contrai.
    Então como explicar que nas ações humanas encontra-se tão similaridades ao seres acima descrito?
    Que o homem deve e é responsável pelos seus atos,isso,acredito eu, é um fato!Ficar culpando a sua natureza,a Deus e ao Diabo por suas ações só revela o quão é ordinário e fraco esse individuo.
    Dai acredito que se encontra sua liberdade,de lutar,de ser um fraco ou forte,por mais que as aparências revelem o contrário,para ambas forças.
    A liberdade do homem é sobreviver.Isso é fatalista? Pode ser,mas é da fatalidade que surge o belo,a urgência de viver e a vida,e vc pode ser o que quiser ser,pq não? Talvez melhor nisso do que naquilo.Mas o importante é saber que se não for por esse caminho só resta mesmo a angústia(como Sartre sitou)e o silêncio.
    Então se sou livre,posso escolher o caminho que quiser,e por inteligência,escolha não o caminho da angústia,pois,a angústia é a incapacidade de sair de uma situação.E se Sartre criou esse alíbi existêncial para não enfrentar seu próprio sofrimento,é pq no fundo é um fraco,não com as palavras,mas com seu espirito. E essa ação que ele sita não é de fora pra dentro,mas sim de dentro pra fora.

    Entre o sofrimento e o nada,escolho o sofrimento!!

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  2. Flávio, Sartre postula que angústia não se escolhe. Ela se apresenta ao homem como consequência inevitável da consciência de que não há nada que o justifique no mundo, que ele e só ele é responsável por si mesmo, que ele está condenado a ser livre, e que essa liberdade é inevitável. Não existe Deus, não há natureza humana, não há desculpas, o que resta ao homem? A angústia e o desamparo.Mas, no fundo, o que resta além da angústia é a inevitabilidade do homem fazer de si o que bem entender, quer dizer,o homem é o único legislador de si mesmo.

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  3. Entendo, então a sua angústia é seu destino. E se é um destino, é pq não há nada q faça sair desse epilogo, logo, não é livre totalmente. Visto que a angústia não é um sentimento e sim um estado no qual a pessoa se encontra. Da mesma forma que uma pedra estando quente por estar coberta pelo sol,poder-se-ia estar fria se a colocarmos num espaço gélido.
    E SER (no sentido permanente,até o momento que resolva sair dessa rota)significa prender-se,torna-se algo que se reconheça,assumir seus valores e opiniões. Então somente o NÃO-SER é livre,pois,a todo instante,estando em contato com as coisas ao ser redor e experimentando-as,não há como se fixar em um único SER. Transformação constante. E isso, acredito eu, não tem como se evitar,por mais forte que seja sua armadura de uma escolha do "EU".A não ser que esse individuo,se isole,sempre que possivel no seu EU até retornar ao mundo,como o faz Saramago,Bunuel,Bergman,Jesus e talvez(pq não sei muito a seu respeito)Sartre...

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  4. porém, independente doO estadoO em q a pessoa se encontra,a angustia é sim um sentimentoO...
    sendoO ou nãoO constante.
    Se a fome nãoO existe,mas sim a ausência de comida...
    fiq sem comer para ver só...(o estomagoO Dói)

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