terça-feira, 16 de março de 2010

Na dispersão das Horas I

POEMA RESIGNADO

Não sei, é possível que em tudo haja
Um motivo uma inoculação um resíduo
(decerto há muito o que ver e sentir...)
A certeza entretanto é um nome às avessas
Oh, mártires desta vida, dei-me
Uma única
E silenciosa
Razão
Para eu partir de mim...



POEMA

Diz-me onde andas em espaços disformes
Territórios, estradas, mapas algum
Nada sob teus pés ressoa rastros
Chega, pois, como rumor ou medo
Mas dizes onde andas
– que paisagens te anunciam
Que verbo te circunda
(que canção esquecida te comove o retorno)
Vês então que há em todo caminho um não obstante
Então andas –
Andas e tudo o mais
É acréscimo de longos desvios



LIRICA MOMENTANEA

Quem sabe esta tarde – tão fria
(há chuviscos resignados e a rua tem um fato de infância)
Quem sabe esta tarde precise talvez de um verso de Drummond
Uma qualquer canção doce e boba saída apenas dos rumores
da solidão
Talvez eu prepare um café
Não fumo, todavia desejaria um cigarro
E esperaria no portão – disperso e trágico –
O retorno de quem não ficou de vir.

Mas é preciso considerar a vida
Urgente e concreta
As dívidas, o trabalho a resignação
Os impostos e a civilidade

E então esta tarde – tão fria
(há chuviscos resignados e a rua tem um fato de infância)
Seja apenas uma tarde fria
Entre outras tantas frias
Que afinal não acaba em poema.

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