domingo, 28 de março de 2010

Jean-Michel Basquiat: Intensidade e primitivismo intelectualizado na arte contemporânea
















No cenário artístico dos anos 80, Jean-Michel Basquiat representou uma verdadeira profusao pictórica. Artista negro, surgiu em meio ao caos e a descrença na pintura, em uma época que se considerava pós-artística, que proclamava a morte da arte. O Minimalismo e a Arte Conceitual desconcertaram a arte contemporânea ao postularem, cada um a seu modo estético, o fim do ato pictórico e extinção do artista como instância primordial para uma arte subjetiva, pessoal, que supunha o gênio criador e a obra advinda apenas como expressão exclusiva desse gênio. A arte moderna rompia padrões, criava uma expressão pictórica hermética, considerando sempre a obra como expressão máxima de um espírito artístico genial. A arte tomava partido, servia como discurso político, contestava e lutava contra as mazelas da sociedade burguesa, econômica e existencialmente. O Expressionismo Abstrato foi o ultimo movimento, antes de Basquiat, a postular a subjetividade como instância fundamental para a ação pictórica. Através da pintura de ação, os Expressionistas Abstratos contestavam os fatos do mundo, do homem, da arte, de si mesmos. O movimento da Pop Arte, geração posterior à de Pollock, mudava radicalmente a orientação da pintura. Ao mesclar elementos da sociedade de consumo com a arte, ao levar a arte de volta ao grande público, ao valorizar artisticamente o que era considerado vulgar e sem expressão artística, ao demonstrar que o artístico pode ser qualquer coisa, basta que o objeto seja projetado com arte, Warhol e companhia imergiram o mundo da arte em uma perspectiva totalmente nova. Mas produziu também uma crise, uma espécie de crise de identidade da arte. O Minimalismo foi um movimento frio, impessoal, rígido em suas formas. A Arte Conceitual desmaterializou a arte, desmistificou o artista. Jean-Michel Basquiat surge nessas circunstâncias. Filho de Gerard Jean-Baptiste Basquiat e Mathilde Andrada, de origem portorriquenha. Era filho de uma família de classe média alta. Aos dezessete anos, em 1977, Basquiat começa a fazer grafites em prédios abandonados em Manhattan. Com um amigo, Al Diaz, criou o projeto SAMO (same old shit). os conteudos dos grafites eram mensagens politizadas, que contestavam valores burgueses. “Em 1978, Basquiat abandonou a escola e saiu de casa, apenas um ano antes de se formar. Mudou-se para a cidade e passou a viver com amigos, sobrevivendo através da venda de camisetas e postais na rua.” Basquiat sempre se mostrava como um homem inquieto, contestador, buscando sempre uma forma de expressão que lhe permitisse expor, atraves da linguagem da arte, seus medos, sua critica, sua visao de mundo. Contudo, “Basquiat começou a ser mais amplamente reconhecido em junho de 1980 quando participou do The Times Square Show, uma exposição de vários artistas patrocinada por uma instituição de nome "Colab". Em 1981, o poeta, crítico de arte e "provocador cultural" Rene Ricard publicou um artigo em que comentava sobre o artista. Isso ajudou a catapultar de vez a carreira de Basquiat internacionalmente. Nos anos consecutivos, Basquiat continuou a exibir sua obra em Nova yorque ao lado de artistas como Keith Haring e Barbara Kruger. Também realizou exposições internacionais com a ajuda de galeristas famosos”. A arte de Basquiat é denominada, pela maioria dos criticos de “primitivismo intelectualizado”. Ele pinta formas primitivas, figuras entrecortadas, assimetricas, sempre coadunando uma espontaneidade subjascente a açao de pintar. “retrata personagens esqueléticos, rostos apavorados, rostos mascarados, carros, edifícios, policiais, ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, junto a pinceladas nervosas, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes. Quase sempre o elemento negro está retratado, em meio ao caos. Há também uma dessacralização de ícones da história da arte, como a sua Mona Lisa (acrílico e óleo sobre tela) que é uma figura monstruosa riscada no suporte”. Basquiat significou, nas circunstancias da pintura nos anos 80, uma atitude de vanguarda e uma visão política do mundo, de certo modo engajado nas formas de pintar que significasse a urgência do retorno da figura do artista engajado e original. Embora consumido e usado como marketing, como fonte de lucro dos marchands, Basquiat foi um ícone da originalidade da pintura no final do século XX. A cor e o traço de Basquiat são permeados por uma visão de mundo que não remete e não permite a mera linearidade de analise. Basquiat é a própria expressão da pintura furiosa e sublime, ingênua e crítica, espontânea e engajada. Basquiat foi um artista da intensidade. Intensidade da cor, da figura, da expressão, da vida. Viveu uma carreira meteórica, intensa, e uma vida igualmente intensa e não comparável. Morreu, aos 27 anos, em 1988, de overdose.

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