sexta-feira, 16 de julho de 2010

Todo Escritor é um Labirinto





Jorge Luis Borges tinha razão. É preciso espelhos, máscaras, labirintos. Qual escritor nunca se perdeu nesse ínterim? Esta tríade profana das lucubrações literárias permeia a alma mais sutil de todo homem que se atreve a arrogância mística de compor palavras. Compor verbo é supor a perda de sentido. Sim. Primeiro escrevemos, depois significamos. O significado, todavia, é sempre objeto ausente. A semiótica é inútil. A hermenêutica falha. Todo devaneio verbal é justo se a palavra – verbo carnificado - supor a perda de caminho. O caminho-sentido, o caminho-espelho. Todo escritor, por certo, não escreve para encontrar a si mesmo. A palavra só horizonta o indefinido. É para esquecer de si mesmo que o homem escreve. Toda a literatura é um apelo ao esquecimento. À desmemoria. – Autopsicografia? Fernando Pessoa tecia o esquecimento de si. Há, pois, entre a literatura e a memória uma antiga inimizade. A palavra literária nutre-se do esquecimento, do silêncio, da mudez que precede cada poema, cada conto, cada romance, toda interlocução. É preciso espelhos, máscaras, labirintos. O espelho não supõe a reprodução de minha imagem. Isso é engano. Supõe, no fundo, a falsificação de mim mesmo. Uma falsificação dupla, plural. O objeto refletido não sou eu; como também não sou eu a matriz do reflexo. Do mesmo modo, minha literatura-espelho não me reflete. Meu verbo nada diz de mim. Antes, supõe a falsificação de meus dramas, de minha finitude, de minha carne. Não obstante, meu verbo é verdadeiro. Eu escrevo como um espelho, me desfaço como uma máscara e me mostro, sim, como um labirinto.

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