segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Palavra como Silêncio


Há uma dimensão sagrada na palavra: ela supõe o silêncio. Escrever é buscar a voz alguma da escrita, o que jamais pode ser dito, e o dito torna-se sempre o intraduzível. Todo poema fracassa. Todo conto incidi uma derrota, a lástima da língua é o romance. Para que serve a Literatura? Para promover silêncios. Para fundamentar o não-dito. Não há outra função originária para o escritor: ele frustra a língua. Assim, nenhum escritor tem voz. Talvez o que possamos supor como berro, grito, rufo da voz seja, em verdade, tímido ruído de algum verbo. Todo escritor é abstrato. E não seria exagero supor que sua existência é a ficção de algum verbo, de alguma palavra, de alguma língua que, por sua vez, também é ficcional. Silenciar a língua, o corpo, as nódoas da carne e da alma. Silenciar o orvalho, o acrobatismo dos bêbados, as desilusões da infância. Silenciar a rua, a brisa, a bruma, as suposições, todas as fomes. Silenciar também as formas. Todas as estéticas. Silenciar o silêncio. Toda palavra é túmulo. Todo escritor é lápide.

2 comentários:

  1. Porra!!!
    Belo e verdadeiro o que vc disse.
    Concordo contigo plenamente!
    E tb acho que a Idéia parte desse prefácio,as melhores idéias,aquelas que permanecem no tempo,que não esgota o enquanto e o desencanto,a admiração,a lógica,enfim...
    Essas idéias precisam do silêncio.Assim como o homem precisa sofrer para alçancar a maturidade,uma idéia necessita permanecer um bom tempo na solidão do silêncio,para surgir algo de novo,como vc disse do não-dito.
    Como Sócrates havia dito,é simplesmente um parto...

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  2. Puxa, eu amei.
    Me fez pensar em como os silêncios falam...
    "Silenciar a língua, o corpo, as nódoas da carne e da alma."
    Maravilhoso!
    Parabéns, querido.

    Abraços,
    Fran.

    Obs.: Tomei a liberdade de postar seu texto em meu blog, com os devidos créditos, é claro.

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