terça-feira, 16 de março de 2010

Verbografia I

I
A poética, de Aristóteles, assinala que a história se preocupa com o que realmente aconteceu, ao passo que, a poesia, nos diz o que é possível ou necessário, quer dizer, o que pode acontecer. O tempo é dado absoluto para o poeta. Não o tempo cronológico, factual, histórico, constatável apenas pela empiricidade. Como oposto, o poeta verbaliza um tempo imemorial, imanente, sim, mas superior. É o tempo do acontecimento poético, os fatos se desempenham em um lugar qualquer do mundo – mas, sobretudo, no intimo de tudo. No mais profundo ser das coisas. É o tempo mesmo do verbo; aquele que se faz carne, ferida, mácula...Toda poesia, por definição, é intempestiva. Carrega em si a supressão do tempo situado, urgente, pragmático, palpável. O que há de fundamental na poesia? É, pois, a factuação da vida fundamental. Vida consentida pelo verbo, pronta sempre a devir, a constatar a si mesma no futuro, no extemporâneo. A historia produz o acontecido; a poesia produz o acontecer.
II
Acredito que a grande ambição do verdadeiro escritor é o silêncio. A palavra, de certo modo, finita a si mesma. O verbo, em muitos casos, não deixa de ser um grilhão. Um bom escritor não é, de modo algum, aquele que eleva a palavra a um nível de transcendência superior. O grande escritor é aquele que forja um verbo tão certo de sua voz que, uma vez existido, cala-se para sempre. O silencio é por vezes o maior poema...

Nenhum comentário:

Postar um comentário