sábado, 1 de maio de 2010

Pessoa - O Eu múltiplo


Lembro que o primeiro poeta que me dispus a ler foi Fernando Pessoa. E isso marcou-me consideravelmente. Sentia-me impelido às suas paginas, aos seus poemas, aos seus dramas, mesmo verbais. A multiplidade de “eus” pessoanos me instiga sempre. Talvez por saber que nenhum homem é uno, único, heterogêneo em si mesmo. O que chamamos de “eu” é, na verdade, um mosaico de sensações, de experiências, de dramas, de acasos...um ensaio permanente...Fernando Pessoa foi o mais fingidor dos poetas e, por isso mesmo, tão autêntico. Sua Autopsicografia é toda uma litaratura. Aliás, Fernando Pessoa é uma literatura toda. Não obstante a dor fíctia, o “eu” fíctio, o drama fíctio, a poesia pessoana é das mais sinceras em matéria de existência e sensação. Uma vida inteira dedicada à experiência poética. Pessoa me torna múltiplo, significativamente outro. Todavia sempre um outro em mim. Muitas vezes, só me sinto pessoa no Pessoa. Este Pessoa em minha pessoa me custa o mistério das coisas. O mundo tem fatalmente um drama múltiplo. Um drama que eu – múltiplo – me findo em variações de mim e de minhas perspectivas. Sou portanto um acaso...mas um acaso múltiplo, cheio de fatalismos...mas fatalismos múltiplos, devir intenso de mudança...