terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Política da esperança ou da conveniência?




Talvez nunca uma eleição no Brasil suscitou tamanha apatia. Entre os jovens, sobretudo, pairou aquele sentimento de que o voto – instrumento efetivo para a construção de uma mudança social – é apenas uma obrigação cívica. Basta perceber o expressivo número de votos nulos e a recordista eleição de candidatos midiáticos, bizarros e de aparente descompromisso político. Por certo a candidatura de Tiririca é a grande metáfora dessas eleições. O deputado mais votado do país é um palhaço, sem escolaridade mínima e jocoso – riu e ridicularizou as eleições, riu e ridicularizou os eleitores, riu e ridicularizou a democracia, que, legítima, o elegeu. Mas, no fundo, Tiririca não terá sido apenas uma tradução do que pensamos, em geral, dos políticos? O que queremos dizer elegendo um palhaço? O sentimento que fica é que, na verdade, sempre foi assim. No geral, as eleições 2010 demonstraram que, cada vez mais, votamos por conveniência; quando, na verdade, deveríamos estar votando por esperança. Há muito não há mais Lula. Há muito não há mais PT como alternativa de esquerda. Ninguém mais ousa falar em socialismo. O que restou? Quais alternativas temos?Um jogo absurdo de partidos, coligações cuja finalidade única é o monopólio político. Nem Dilma Roussef, muito menos José Serra, representaram verdadeiras alternativas para o eleitor brasileiro. No fundo, não acreditamos neles. Tivemos, por uma questão de dever cívico, que eleger alguém. O sentimento dos eleitores que compareceram às urnas nessas eleições de nada se assemelha com aquele sentimento dos que compareceram em 2002, quando, pela primeira vez, em quinhentos anos de história, um operário, um homem oriundo do povo, assumiu o mais alto posto político do país. Era ali circunstância de esperança. Nós, os jovens daquele momento, vestimos, literalmente, a camisa da campanha. Militamos. Fomos às ruas pedindo Lula no poder. Acreditávamos que, naquele momento, estávamos ajudando a construir uma nova ordem política para o Brasil. Estávamos elegendo um futuro promissor, estávamos superando um passado político de desmandos e atrasos. E, hoje, no final do segundo mandato de Lula, sentimos, é verdade, alguma frustração. Mudaram-se os atores, permaneceu a tragédia. Mas, no total, enxergamos o progresso enfim tão almejado – embora um progresso parcial e assistencialista. Não desejo, evidentemente, fazer apologia ingênua aos discutíveis progressos do governo Lula. O que digo é que, de fato, Lula significou a última voz de voto de esperança. O último líder que moveu as expectativas dos jovens. Não há, com efeito, no cenário da política nacional, um político que represente hoje uma alternativa plausível de mudança social e política. E no íntimo todos nós compreendemos isso. Hoje a política é da conveniência. Chegamos enfim ao cínico ato de “votar no menos ruim”. O que restará, no futuro, para os jovens? Quais serão seus líderes políticos? Quais mitos revolucionários eles se espelharão? É preciso muita reflexão. Mas é preciso, antes de tudo, a esperança, para que, no futuro, não tenhamos que descrer da política elegendo palhaços

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