terça-feira, 31 de agosto de 2010

ATELIÊ


Pois bem, também sou pintor. Mais por devoção do que por competência. Mostrarei meus quadros neste blog; assim, além de me expor como verbo, palavra-imagem, também me desnudarei em cores, linhas, traços abstratos, figurativismos. Eis, pois, meu Ateliê.

- Este quadro chama-se Estranhamento em Azul. É acrílica sobre tela.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Resíduo II

II

Tenho em mim vontades inadiáveis. Por muito desejo tudo o que é intempestivo, longínquo, galgado apenas a tempos imagináveis. Tenho, pois, vontade de tudo o que é futuro. O para sempre, porém, me parece de uma morbidez de crepúsculo. Não sei, talvez haja em mim o fluxo horrendo da existência, que não cessa, dia a dia, de perecer. Tenho vontade do amanhã. E sinto isso nos movimentos de meus poros, em meus pelos em progresso, nas unhas a crescer, na saliva a desfazer-se, nas toxinas dispersas diariamente. Vejam as roupas. As vestes têm uma peculiaridade toda austera. Cobrem a nudez, disfarçam o que há de mais imperfeito e natural. Sim, a nudez é uma imperfeição de margem. Talvez a nudez do espírito, todavia, seja mais obscena do que a da carne. O espírito não se desvela, revela-se apenas na gratuidade do desfazer-se. É preciso saber que a nudez é a originalidade do Ser. Só o Ser é desnudo de convicções. A nudez limita. Por certo a historia da roupa é a historia da vontade do homem de desfazer-se de sua imagem de Ser.

Resíduos

O QUE ME TORNA

O que sou, e o que desejo tornar-me, é por certo uma tarefa de construção diária. É verdade que nenhum homem constrói a si mesmo sozinho, tampouco é construído passivamente. O que sou, portanto, é justamente o que me permiti ser, projetando-me dentro de minhas circunstâncias possíveis. O importante, como disse Sartre, não é o que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós. Felizmente tenho alguns mestres. Espíritos livres que construíram uma existência autêntica. Aprendi mais com Nietzsche e Deleuze sobre o mundo e o homem do que com credos e religião. Percebei, lendo Fernando Pessoa, que a realidade é imensa e que somos do tamanho do que vemos. Saramago e Graciliano Ramos me ensinaram mais sobre o social do que a Sociologia Política. Van Gogh me mostrou a incomensurável grandeza de acreditar no talento.

sábado, 14 de agosto de 2010

POEMA PARA ANARA INCONSEBÍVEL

Amei Anara mais do que a todos os homens
Roguei a Deus pedi ao diabo desacreditei
Escrevi odes salmos epopéia bilhetes suicidas
Amei Anara na solidão de uma praça
Bebi, não resignei caminhos tortos
Perdi o bonde –
(meu deus não existe mais bondes)
Amei Anara nos tombos.

Mas que tolice!
Anara é uma conjetura
(E quais amores não o são?)